Tempo Litúrgico – Tempo Comum

O Tempo Comum começa no dia seguinte à festa do batismo do Senhor e vai até a terça-feira de carnaval; recomeça na segunda-feira depois do domingo de Pentecostes e termina no sábado anterior ao 1º Domingo do Advento. Dividido nestes dois blocos, tem a duração de 33 ou 34 domingos. Nele, somos convidados a celebrar, não um acontecimento especial de nossa salvação, mas todo o mistério de Cristo em sua plenitude e globalidade. O fato de se denominar “comum” não significa menos importante. Aliás, antes mesmo de se organizarem as festas anuais, com seus tempos de preparação e prolongamento, a Igreja já celebrava a cada domingo a Páscoa de Jesus. Todo culto tinha uma forte dimensão de expectativa da vinda do Senhor. Quando mais tarde se organizaram os ciclos da Páscoa e do Natal, era para celebrar com mais intensidade, num tempo determinado, o que já fazia parte do cotidiano das comunidades.

Nos domingos do Tempo Comum, o mistério da Páscoa do Senhor nos é revelado pelo cotidiano de sua vida: suas palavras, ensinamentos, trabalhos, amizades, sonhos, conflitos e desafios. Os primeiros têm uma ligação maior com o mistério da Epifania e nos convidam a adorar o Senhor que se manifesta, anunciando a sua missão e chamando os primeiros discípulos. Nos outros domingos, fazemos memória dos fatos que marcaram a missão de Jesus. Os últimos domingos acentuam a dimensão escatológica do reino e nos renovam na esperança da vinda do Senhor.

Em alguns domingos, a memória da missão de Jesus cede espaço à celebração de algum mistério da vida do Senhor, de Maria e dos Santos, como é o caso do domingo da Santíssima Trindade, de Pedro e Paulo, da Assunção de Maria, da festa de Todos os Santos ou, quando coincidem com o domingo, as festas de Apresentação e da Transfiguração do Senhor, a Natividade de João Batista, a Exaltação da Santa Cruz, Nossa Senhora Aparecida e a memória dos fiéis falecidos.

O Tempo Comum é longo e as expressões litúrgicas são mais discretas, se comparados aos tempos especiais. Por isso, os ritos devem ser revestidos de permanente autenticidade para poderem ter força de novidade. Trata-se de prolongar ao longo do ano litúrgico a ternura da festa pascal, de modo que a Páscoa possa unificar todas as celebrações do ano numa mesma experiência mística do coração. “Esta tarefa, de impregnar de Páscoa o ano inteiro, é mais difícil do que fazer a própria festa anual.” Mas pouco adiantaria festejar com exuberância uma vez por ano se o resto dos dias fossem sem graça e vazios.

Algumas comunidades têm procurado retomar elementos da festa anual que expressem a alegria pascal, como o círio, a aspersão com água no lugar do ato penitencial, o uso do incenso, o canto do aleluia. O Ofício Divino das Comunidades valorizou o ofício de vigília, no sábado à noite, com o rito do lucernário. Esta vigília retoma a cada semana o ambiente e o conteúdo da vigília pascal, sem repetir o que lhe é próprio.

É importante ligar a celebração semanal da Páscoa aos apelos que vêm da vida, seja da religiosidade popular, da pastoral das Igrejas, das lutas pela libertação ou da preocupação com a paz mundial.

As festas dos santos queridos do povo, como os santos de julho, a devoção de Maria, no mês de maio, ou o respeito à memória dos mortos, em finados, podem ser unidas à celebração do domingo, por meio de uma prece ou da lembrança na recordação da vida ou de um canto, ligando-a ao mistério pascal de Cristo.

Da mesma forma, os apelos da pastoral das Igrejas – uma assembleia de pastoral, uma campanha de evangelização ou um mês temático – poderiam ecoar mais fortemente, se inseridos na dinâmica da celebração dominical. O costume de, em muitos lugares, dedicar o mês de agosto às vocações poderia ser celebrado mediante um rito como a renovação do batismo, fonte de toda consagração e vocação. O mês de setembro, mês da Bíblia, pode ser momento propício para a comunidade desenvolver algum gesto ou rito que eduque para uma relação familiar com a Palavra e que seja assumido em todos os domingos: colocar a Bíblia em uma estante especial, cantar o Evangelho ou proclamá-lo entre velas acesas ou, se for de noite, acompanhado de velas acesas nas mãos das pessoas; a assembleia pode aproximar-se da estante; conduzir o livro em procissão e incensá-lo; passar o livro de mão em mão pela grande assembleia. No mês das missões, outubro, entrando em comunhão com aqueles e aquelas que, no mundo inteiro, dão testemunho do Evangelho, podem ser valorizadas as preces dos fiéis e o rito da bênção, na cidade e no campo, dentro ou fora do País.

A caminhada de libertação dos pobres, as lutas dos movimentos sociais por terra, pão, trabalho e educação, a busca da justiça, dos direitos humanos e da paz constituem momentos densos da Páscoa de Cristo na Páscoa do povo e que, por isso mesmo, pedem um espaço na celebração semanal. Assim, a memória dos mártires pode ser lembrada, trazendo, na procissão de entrada, um retrato seu; o dia do lavrador será marcado pelo toque da terra, pela memória das lutas e pelas bênçãos das sementes; a bandeira da paz será trazida solenemente e tocada por todos para pedir o fim da violência neste ou naquele lugar.

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