O profeta Ezequiel, cujo nome significa “que Deus fortaleça”, é recordado no dia 23 de julho pelo calendário popular. Ele pertencia a uma tradição sacerdotal, e talvez tenha atuado no templo de Jerusalém antes do exílio babilônico.
O profeta Ezequiel, cujo nome significa “que Deus fortaleça”, é recordado no dia 23 de julho pelo calendário popular. Ele pertencia a uma tradição sacerdotal, e talvez tenha atuado no templo de Jerusalém antes do exílio babilônico. Ezequiel foi levado à Babilônia na primeira deportação em 597 a.C., com as principais lideranças do povo (2Rs 24,15-16). Junto aos exilados às margens do rio Cobar, afluente do Eufrates no atual Iraque, Ezequiel descreve a experiência do encontro com Deus, que não abandona o povo sofrido (1,1ss). A profecia de Ezequiel, situada entre os anos 593–571 a.C., na Babilônia, ajuda a manter viva a esperança dos exilados.
A primeira parte do livro, atribuído a Ezequiel, explica principalmente por que Israel passou pela catástrofe do exílio (1–24). A cidade de Jerusalém e o templo foram destruídos em 587 a.C., quando houve a segunda deportação. O exílio gerou uma profunda crise de identidade no povo. Pregador de julgamento diante de “corações endurecidos” (2,3ss), o profeta Ezequiel encontra-se agora frente a um povo desanimado – “nossos ossos estão secos, nossa esperança acabou, estamos perdidos” (37,11) – ao qual deve motivar com uma mensagem de esperança. Na última parte do livro de Ezequiel (33–48) renasce a esperança de salvação, sobretudo na visão de um novo templo em Jerusalém (40–48). O profeta mostra o caminho da conversão, que consiste na volta a Deus e à comunidade restaurada em Jerusalém.
“Ezequiel acreditava que Deus iria agir depondo as autoridades e ocuparia o seu lugar. Um novo Davi assumiria a sua representação na terra (34; 45,8). O Senhor julgaria o seu povo (39,21-29). O ‘Dia do Senhor’ seria de ira (22,24). Por fim, Ezequiel propôs, como solução para tantos problemas, a purificação do povo e o consequente recebimento de um novo coração e um novo espírito (11,19). Ezequiel confiava que a intervenção do Senhor criaria um novo céu e uma nova terra, daria ao ser humano um coração novo, poria o seu Espírito no íntimo de cada um, e uma ‘Nova Aliança’ seria feita com o povo (36,26-28). Nisso estava sua esperança” (Jacir de Freitas Faria. Profetas e Profetisas na Bíblia, Paulinas).
Passagens importantes no Livro do profeta Ezequiel
Ez 1–3: Vocação profética de Ezequiel e visão da glória de Deus – Os quatro animais se tornaram no cristianismo primitivo, os símbolos dos quatro evangelistas: o homem representa Mateus, o leão Marcos, o touro Lucas e a águia João (1,4ss; 10; Ap 4,6-8).
Ez 18: Responsabilidade pessoal. O exílio não é castigo de Deus, mas exige a prática da justiça e da solidariedade (Is 58,6-8) a fim de transformar as situações de morte em vida digna para todos.
Ez 33,1-20: A missão do profeta como sentinela do povo.
Ez 34,11-16: Deus como o pastor do povo para oferecer vida em abundância, frente a uma realidade de pastores que “roubam, matam e destroem” (Jo 10,10).
Ez 36,16-32: O dom de Deus de um coração novo e de um novo espírito.
Ez 37,1-14: Nova esperança que faz reviver ossos mortos.
Ez 47,1-12: A fonte do templo, doadora de vida.
“Em meio à tirania do império opressor, o Segundo Isaías (40–55), por volta do ano 550 a.C. propõe a liderança do servo exercida por um grupo (42,1; 43,20; 45,4). Todos os membros da comunidade são responsáveis pelo serviço da justiça. O grupo coloca Deus se dirigindo ao servo: “Eu, Javé, chamei você para a justiça, tomei-o pela mão, e lhe dei forma, e o coloquei como aliança de um povo e luz para as nações” (42,6). Deus quer que o seu povo assuma uma nova liderança. O novo jeito de agir passa pela defesa da vida ameaçada, é um caminho feito na pequenez e na fragilidade, com as pessoas enfraquecidas e desanimadas. O primeiro cântico do servo (42,1-9) apresenta a maneira solidária e amorosa de agir do servo, oposta à do rei, sem o uso do poder nem da violência. As consequências da prática da justiça na vida do servo são descritas nos outros cânticos: 49,1-7; 50,4-11; 52,13–53,12” (Vida Pastoral, Setembro-Outubro de 2004).
“Lá na beira dos rios da Babilônia nos sentamos a chorar. As saudades de Sião, seu amor a recordar! Nos salgueiros plantados ali por perto, penduramos os violões. O opressor, de tão esperto, exigia ouvir canções”. Salmo 137 (136) lembra o lamento dos exilados na Babilônia, longe de Jerusalém e das liturgias em sua terra natal. O silêncio dos cantores, com as cítaras penduradas, representava a esperança do povo de voltar a cantar os cânticos que celebram o êxodo e a liberdade.
Irmã Helena Ghiggi, da congregação Discípulas do Divino Mestre.