O Advento é um tempo precioso para vivência de nossa fé. Em meio a tantas dificuldades em se criar uma sociedade fraterna, nós nos apegamos à promessa do Senhor e continuamos aguardando, desejando e preparando a vinda do Reino de Deus. Aguardando a luz que vem brilhar no Natal, nós cantamos esperançosos.
Mas o que é mesmo Advento?
- O advento é tanto fim como começo. É o tempo de espera da vinda gloriosa do Cristo. Nas primeiras semanas, aponta mais para o “fim dos tempos”, mas, principalmente a partir do dia 17 de dezembro, passa a apontar para o começo, o nascimento de Jesus. Faz-nos viver a expectativa e a preparação da vinda de Jesus no fim dos tempos, na glória do seu reino, lembrando sua entrada na história e na caminhada de seu povo, com seu nascimento em Belém.
- Embora insista em conversão, não tem aquele caráter penitencial da Quaresma. A conversão do advento consiste em prepararmos alegres e ligeiros, cheios de esperança, o caminho do Senhor que vem.
O Advento tem uma história
- Vários livros antigos informam que entre os séculos IV e VII, em vários lugares do mundo, havia uma preparação para a festa do Natal, primeiro na Gália (atual França), e na Espanha, como tempo de jejum, provavelmente por causa da preparação ao batismo na Epifania. Mais tarde também em Roma. A partir do século VI, é acrescentado na Itália, o aspecto escatológico do Advento: a preparação para a segunda vinda de Cristo no fim dos tempos. E nem sempre o advento teve 4 semanas, houve épocas em que durava 3, 5 ou 6 semanas.
O Advento de um mundo renovado
- Vivemos em uma sociedade que só visa o lucro, o poder, a dominação. O ser humano é reduzido a mercadoria. A injustiça é um mal que a cada dia mata milhares de pessoas. Uns tem tudo, outros não tem terra, trabalho, salário, casa, comida…Viver o Advento significa, rever os nossos projetos, avalia-los à luz da mensagem do Advento, rever o rumo que estamos tomando em nossa vida pessoal, social e comunitária.
- O tempo litúrgico do Advento nos faz viver profundamente este aspecto da presença/ausência do Reino. Reaviva em nós a esperança de um futuro melhor em um mundo que parece estar se suicidando. Reanima a nossa coragem: os nossos esforços por uma vida digna, por uma sociedade fraterna, não serão em vão. Reaviva o nosso amor. Alguém espera por nós no ponto de chegada e já se faz presente como companheiro de caminhada: o Senhor Jesus.
“Vem, Senhor Jesus!”
A prece mais característica do tempo do Advento é: “Vem Senhor Jesus!”. São Paulo termina sua primeira carta aos Coríntios dizendo: “Maranatha. (1Cor 16,22-24). Que são palavras da língua falada por Jesus, que significa: O Senhor veio, está presente. Também pode ser lida como Maranatha: Nosso Senhor, vem. Bem semelhante a aclamação em Ap 22,20. As palavras em Aramaico provam a origem palestinense da aclamação, e o fato de São Paulo não traduzi-la em Grego, deixa supor que todos a conheciam, provavelmente porque era muito usada na liturgia. E hoje na liturgia nós podemos cantar esta aclamação.
O Advento nos livros litúrgicos
- O Ano Litúrgico não tem começo nem fim, propriamente ditos. Pois se nós cristãos consideramos a vida e a história uma grande caminhada que só terminará quando nos encontrarmos todos na casa do Pai, é perigoso representar o Ano litúrgico com um círculo, daria a impressão de que estamos presos no tempo: todo ano tudo recomeçaria da estaca zero e jamais poderíamos esperar grandes mudanças. E sabemos que tanto a Ressurreição de Jesus como o seu nascimento nos ensinam exatamente o contrário: a força e a presença dinâmica de Deus no meio da humanidade, em meio a seu povo nos faz lembrar que podemos ser agentes transformadores e que temos a possibilidade de mudar a história.
- Na prática, porém, os livros litúrgicos (o missal, o lecionário, a liturgia das horas…) iniciam com o advento. E o advento começa com a oração da tarde na véspera do domingo que cai no dia 30 de novembro ou no domingo que lhe fica mais próximo, e termina antes da oração da tarde na véspera do Natal do Senhor. Até o dia 16 de dezembro, há orações e cantos próprios para a missa de cada dia, os mesmos se repetindo a cada semana. A partir do dia 17, cada dia tem sua missa própria.
- No advento também há dois tipos de prefácio. Um a ser usado até o dia 16 de dezembro, fala das duas vindas de Jesus. O outro a ser usado a partir do dia 17 até 24 de dezembro, já nos coloca mais diretamente em clima de Natal.
As Leituras no Advento
- No Ano A (Mateus) – O evangelho de Mateus mostra o cumprimento das promessas anunciadas pelo profeta Isaías.
- No Ano B (Marcos) – As leituras nos alertam para ficarmos prontos para o encontro com Deus que se aproxima.
- No Ano C (Lucas) – As leituras mostram como a vinda de Deus renova a história da humanidade. Deus quis precisar do sim de Maria e de todos nós para realizar esta renovação, precisa de nossa conversão, por isso o evangelho nos faz ouvir as sugestões de João Batista.
- No 1º Domingo dos três anos – Prevalece às imagens do fim do mundo, não como ameaça, mas como alerta para que ninguém seja tomado de surpresa.
- No 2º e 3º Domingo dos três anos – Os dois personagens que mais se destacam são o profeta Isaías e João Batista, eles anunciam a salvação que está próxima. Por isso alegria e conversão se misturam na preparação da vinda do Senhor.
- No 4º Domingo dos três anos – A personagem principal é Maria. Ela está pronta para dar à luz o salvador.
Características das Celebrações no Advento
- O Advento é celebrado com sobriedade e com alegria discreta. Por isso, não se canta o glória…(a não ser nas solenidades e festas), fica reservado para a noite de Natal, quando juntamos nossa voz à dos anjos para dar glória a Deus pela salvação que realiza em nosso meio. O aleluia no entanto continua ressoando.
- Pelo mesmo motivo da sobriedade, o DL prescreve que flores e instrumentos sejam usados com moderação, para não antecipar a plena alegria do Natal do Senhor.
- Usa-se a cor roxa para as vestes litúrgicas (casula, estola) onde se tem o costume de cobrir a estante da Palavra (ambão), o pano poderá ser da mesma cor. O 3º domingo, a cor usada é tradicionalmente é o cor-de-rosa, por ser o domingo da alegria, referente a segunda leitura, no qual o apostolo nos convida: alegrem-se.
- Em muitas regiões usa-se a coroa do Advento, com quatro velas, que serão acendidas uma a uma, acompanhando os quatro domingos do Advento. A luz crescente indica a proximidade do Natal, quando a luz de Cristo, a luz da salvação, há de brilhar para toda a humanidade.
Domingos do Advento: Missa e Celebração da Palavra
- Como já vimos são quatro os domingos do Advento. Como celebra-los bem? É preciso perceber os sinais sensíveis, pois liturgia se faz com palavras, mas também com gestos, ações, sinais e símbolos…O sinal principal é a própria Eucaristia, o sacramento da espera “até que o Senhor venha”. Outros sinais devem completar este sinal principal. Vamos lembrar, o que se pode fazer para criar um clima característico de Advento, onde temos: coisas para se ouvir, coisas para se ver e coisas para se fazer.
Coisas para se ouvir: Em primeiro lugar temos as leituras bíblicas
- Em seguida os cantos. Não há dúvida de que os cantos tem um papel importante, principalmente quando são bem conhecidos por todos: evocam logo todos os Adventos anteriores, os temas bíblicos aprofundados, as experiências vividas, os sentimentos de espera, de expectativa pela vinda do Senhor. É evidente que os cantos de entrada, das oferendas e de comunhão devem ser próprios para o Advento. Mas seria interessante também que até mesmo as melodias dos cantos fixos da missa fossem próprios do Advento: o Senhor, tende piedade, o Santo, a aclamação eucarística, o Cordeiro de Deus. Os salmos que seguem a 1ª leitura e a aclamação ao evangelho já vem indicados no lecionário, porque acompanham o sentido das leituras. Pelo menos o refrão destes dois cantos deveria ser cantado.
Coisas para se ver:
- Além da cor roxa, da ausência das flores, da coroa do Advento…, há comunidades que colocam um painel com desenho referentes ao Advento. Em outros lugares costuma-se montar o presépio a partir do dia 17, sem a imagem do Menino Jesus, pois esta só entra na missa do dia 24. Algumas leituras se prestam a diálogos, dramatizações ou encenações litúrgicas. Mas é importante não confundir encenação litúrgica com teatro. A encenação litúrgica é uma proclamação da Palavra, feita em clima de oração e celebração.
- Liturgia é ação. A ação principal é a refeição, a ceia do Senhor, com a oração eucarística e a comunhão. Mas o nosso corpo precisa participar de toda celebração. Haverá algum gesto ou ação que possamos introduzir na liturgia do Advento e que ajude a celebrá-lo melhor? Dependendo do perfil da assembleia reunida, pode-se rezar com os braços levantados como quem pede ajuda: durante o refrão “Vem, Senhor!”, ou durante a resposta às preces dos fiéis, ou durante o pedido do pai-nosso. “Venha a nós o vosso reino”.
Conclusão
- Pelo mistério da liturgia do Advento, as comunidades celebram as múltiplas vindas de Deus, centrando o olhar e o carinho num Deus que gosta de visitar a humanidade, que está sempre vindo ao encontro da gente – Deus que é, que veio e que vem! – e ao mesmo tempo, festejando a busca e a luta da humanidade inteira em direção a vida.
- Portanto celebrar o Advento é festejar a primeira vinda de Jesus, o reino acontecendo. Jesus já veio, o reino já começou e seus sinais estão presentes entre nós na denúncia da injustiça, na luta por melhores condições, nos gestos de partilha.
- Celebrar o Advento é festejar a vinda, hoje, de Jesus Cristo na vida da gente, das comunidades, dos seus pobres. A mesma oração que ressoava na assembleia cristã primitiva – Maranatha, vem, Senhor Jesus – ressoa nas comunidades de hoje. Guiadas por esse grito e prece, as comunidades eclesiais cultivam a espera e a vigilância.
- Celebrar o Advento é festejar, na esperança, a vinda definitiva de Jesus. Celebrar o ainda não do reino, aquilo que falta para completar a vinda do Senhor. É viver na ânsia de paz, justiça e integridade da criação, na espera do Advento de um mundo renovado. É tempo de recriar, refazer e retornar a utopia do reino.
- O Advento torna-se, assim um tempo forte da igreja missionária e peregrina que suplica ao Senhor por sua manifestação definitiva, para todos os povos da terra, torna-se um convite ardente para que as comunidades recuperem sua mística e a consciência de serem portadoras da esperança para toda a humanidade.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Guimarães, Marcelo – Dia do Senhor: guia para celebrações das comunidades: Ciclo do Natal ABC, vol.1 / Marcelo Guimarães, Penha Carpanedo – São Paulo: Paulinas, 2002.
Buyst, Ione – Preparando Advento e Natal, São Paulo: Paulinas, 2002 – (Coleção Celebrar).
Organizadora: Ir. Rosária Belançon