Corpus Christi: O pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo (Jo 6,51)

 

Corpus Christi, colocada na quinta-feira após a solenidade da Santíssima Trindade, celebra o amor de Deus plenificado na vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Pela Eucaristia participamos da vida do Ressuscitado e aprendemos a viver em atitude de serviço fraterno, como Ele ensinou ao lavar os pés dos discípulos durante a Última Ceia (Jo 13,1-20). A presença viva de Jesus, no pão e vinho da Eucaristia, é sinal de seu amor pela humanidade até o fim (Jo 13,1), até o extremo de dar sua vida para que todos tenham vida digna em abundância (Jo 10,10-18). A oração do dia realça o sentido de Corpus Christi: Senhor Jesus Cristo, neste admirável sacramento nos deixastes o memorial da vossa paixão. Dai-nos venerar com tão grande amor o mistério do vosso Corpo e do vosso Sangue, que possamos colher os frutos da vossa redenção. Na Eucaristia, comungamos com a vida de Cristo, seu “Corpo entregue” e seu “Sangue derramado” pela salvação de todos.

Neste tempo em que somos orientados a manter o distanciamento social e evitar aglomerações, temos a oportunidade de celebrar em comunidades menores. Isso possibilita a vivência da comunhão fraterna proposta pelo apóstolo Paulo: “Vocês são Corpo de Cristo” (1Cor 12,27). Reconhecer no pão da Eucaristia o Corpo do Senhor, em sua entrega radical, implica solidariedade com os irmãos (1Cor 11,17-34),  sobretudo com os mais sofredores e excluídos. O gesto de compartilhar o pão eucarístico deve ser  acompanhado do compromisso com os que são privados de pão e de justiça. Prostrar-se diante do Corpo Eucarístico exige ouvir o grito dos corpos violentados, que clamam por libertação. A comunhão com Cristo na Eucaristia impele a partilhar o pão cotidiano com os mais necessitados, mantendo viva a esperança de igualdade, sem dominação e preconceitos.

Hoje a Igreja te convida:
Ao pão vivo que dá vida
Vem com ela celebrar!

Este pão, que o mundo o creia!
Por Jesus, na Santa Ceia,
Foi entregue aos que escolheu.

Alimento verdadeiro,
Permanece o Cristo inteiro
Quer no vinho, quer no pão.

Em sinais prefigurado,
Por Abraão foi imolado,
No cordeiro aos pais foi dado,
No deserto foi maná…

Bom pastor, pão de verdade,
Piedade, ó Jesus, piedade,
Conservai-nos na unidade,
Extingui nossa orfandade,
E conduzi-nos para o Pai!

Aos mortais dando comida,
Dais também o pão da vida;
Que a família assim nutrida,
Seja um dia reunida
Aos convivas lá do Céu!
(parte da Sequência)

João 6,51-58

A leitura do Evangelho está situada após o sinal do pão (6,1-15), quando Jesus alimenta a multidão em lugar deserto. Durante o longo discurso (6,22-58), o Mestre Jesus explica que Ele mesmo é o dom, o Pão da Vida, no sentido “sapiencial” como Palavra de Deus (6,30-50) e no sentido “eucarístico” doando a própria vida (6,51-58). Esses versículos fazem alusão à prática sacramental da Igreja primitiva e à Ceia Eucarística mediante o “comer a carne e beber o sangue”. Mas em outras partes já havia ressonâncias à Eucaristia ou “ação de graças” (6,11.23). Os seguidores e seguidoras de Jesus não ficam órfãos com a morte do Mestre de Nazaré. O Ressuscitado permanece vivo e atuante nas comunidades que celebram a Eucaristia, mas também “onde dois ou três estiverem reunidos em seu nome” (Mt 18,20), na vida e história de todos os povos.

O “Pão Vivo que desceu do céu” é Jesus, o Enviado do Pai para manifestar o Amor gratuito de Deus que plenifica de vida.  “O pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo”, alusão à Paixão que aponta para a perspectiva sacramental.  Jesus assume o ser humano tornando-se “carne”, e na sua humanidade Ele dá a vida pelo mundo.  O termo “carne” exprime a realidade já afirmada no Prólogo de que a Palavra se fez carne (Jo 1,14) na história da humanidade pela vida de Jesus Cristo. Os Evangelhos sinóticos e 1Coríntios utilizam a palavra “corpo” na linguagem eucarística (Mt 26,26; Mc 14,22; Lc 22,19; 1Cor 11,24). A comunidade que celebra “come a carne e bebe o sangue do Filho do Homem”, unindo-se à sua vida totalmente entregue pelos outros, para ser servidora com alegria e esperança.

O pão e o vinho sobre o altar, “fruto da terra e do trabalho do ser humano” recebidos com fé, transformam-se para os que creem em “pão de vida” e “cálice de salvação”. Assim, os cristãos se alimentam da “verdadeira comida” e “verdadeira bebida” que sustentam a vida e o trabalho na construção de um mundo mais justo e solidário. “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, permanece em mim, e eu nele” sublinha a necessidade de permanecer vinculados a Jesus como a videira (símbolo eucarístico, cf. Mc 14,25), a fim de experimentar a íntima união que há entre o Pai e o Filho (14,20-21).  O discurso encerra-se aludindo à caminhada no deserto e o “maná” (Ex 16), que prefigura o verdadeiro Pão do céu. “Comer deste pão faz viver para sempre”, na comunhão com o Senhor, que começa desde agora pela participação na Eucaristia, comida compartilhada com os irmãos e irmãs na fé.   

Deuteronômio 8,2-3.14b-16a

A primeira leitura recorda a experiência do deserto como guia para toda a história salvífica. “Foi Deus que te alimentou no deserto com o maná, com a Palavra que sai de sua boca”, sinal de sua bondade e providência. O povo estava com fome de ouvir a Palavra do Senhor (Am 8,11), de viver pelos mandamentos para promover a vida diante das situações de morte e opressão. “Não esqueças o Senhor teu Deus que te fez sair do Egito, da casa da escravidão” enfatiza a necessidade de preservar a memória do Êxodo através da confiança no Senhor e fidelidade à sua Palavra libertadora.

Salmo 147,12-20

O salmista convida ao louvor, porque “o Senhor assegura a paz e alimenta com a flor do trigo”, condições necessárias para a reconstrução de Jerusalém após o exílio babilônico. “Na transposição cristã, a Palavra que vem à terra e corre veloz é o Filho de Deus na encarnação; como Palavra se prolonga na pregação do Evangelho” (Bíblia do Peregrino).

1 Coríntios 10,16-17

A segunda leitura reflete sobre a unidade no cálice da bênção e no pão repartido. “Cálice da bênção” era um termo técnico litúrgico, tomado do ritual da refeição pascal judaica. “Que nós abençoamos”, ação de graças pronunciada por Jesus (Mc 14,23) e continuada na prática cristã. A identificação do pão e o vinho da Eucaristia com Cristo, e a participação desta refeição produz a “comunhão” (koinonia) com Cristo e com os irmãos. “Um só pão”: compartilhando da fonte da vida, do pão que é o Corpo de Cristo, formamos um só corpo. Quem comunga em Cristo não pode compactuar com os ídolos (1Cor 10,14).

Papa Francisco

O ser humano, além da fome física, sente outro tipo de fome, uma fome que não pode ser saciada com o alimento comum. Trata-se da fome de vida, fome de amor, fome de eternidade. E o sinal do maná – como toda a experiência do êxodo – continha em si também esta dimensão: era figura de um alimento que satisfaz esta fome profunda que o ser humano sente. Jesus nos concede este alimento, Ele mesmo é o pão vivo que dá vida ao mundo (Jo 6,51). O seu Corpo é o verdadeiro alimento, sob a espécie do pão; o seu Sangue é a verdadeira bebida, sob a espécie do vinho. Não se trata de um simples alimento com o qual saciar os nossos corpos, como no caso do maná; o Corpo de Cristo é o pão capaz de dar vida, e vida eterna, porque a substância deste pão é o Amor.

Na Eucaristia comunica-se o amor do Senhor por nós: um amor tão grandioso que nos nutre com Ele mesmo; um Amor gratuito, sempre à disposição de cada pessoa faminta e necessitada de regenerar as próprias forças. Viver a experiência da fé significa deixar-se alimentar pelo Senhor e construir a própria existência não sobre os bens materiais, mas sobre a realidade que não perece; os dons de Deus, a sua Palavra e o seu Corpo.

O único alimento que nos nutre verdadeiramente e que nos sacia é aquele que o Senhor nos concede. Os hebreus no deserto tinham saudades da carne e das cebolas que comiam quando estavam no Egito, esquecendo-se que comiam aqueles pratos na mesa da escravidão. Dirijamo-nos a Ele com confiança: Jesus, defendei-nos das tentações do alimento que nos torna escravos; purificai a nossa memória, a fim de que não permaneça prisioneira, mas seja memória viva da vossa presença ao longo da história do vosso povo, memória que se faz “memorial” do vosso gesto de amor redentor. Assim seja!

Santo Tomás de Aquino

Ó precioso e admirável banquete, fonte de salvação! Ninguém pode expressar a suavidade deste sacramento; por ele prova-se a doçura espiritual em sua mesma fonte; e torna-se presente a memória da excessiva caridade que Cristo revelou em sua Paixão. Para que esta sublime caridade se gravasse mais profundamente nos corações dos fiéis, instituiu este sacramento no momento em que, celebrada a Páscoa com os discípulos, iria passar deste mundo ao Pai; como perene memorial de sua Paixão, como cumprimento das antigas figuras, este é o maior dos seus milagres: deixou singular conforto aos que se entristeceram com sua ausência.

Dom Odilo Sherer

Celebrando a Eucaristia “em memória de Jesus Cristo”, elevamos todos os dias a Deus a adoração, o louvor, a súplica, a intercessão e a ação de graças da Igreja e da humanidade inteira, junto com Cristo, ao Pai celeste. Na solenidade de Corpus Christi, recomenda-se a oração pelos doentes e pela superação da pandemia, bem como a promoção de gestos de partilha e caridade fraterna para com os pobres e aflitos.  Agradeçamos pelo alimento espiritual e o conforto para nossa fé que a Eucaristia nos oferece. E ofereçamos a Missa especialmente pelos doentes e pobres e por todos aqueles que se dedicam generosamente a eles. Que Maria, a Mãe da Igreja, e o apóstolo São Paulo, nosso Patrono, intercedam por nós.  Deus abençoe e conforte a todos.

 

Tão sublime sacramento adoremos neste altar,
Pois o Antigo Testamento deu ao Novo seu lugar.
Venha a fé por suplemento os sentidos completar.
Ao eterno Pai cantemos e a Jesus, o Salvador.
Ao Espírito exaltemos, na Trindade, eterno Amor.
Ao Deus Uno e Trino demos a alegria do louvor.

 

Irmã Helena Ghiggi,
Congregação Pias Discípulas do Divino Mestre.

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