Jesus, o Bom Pastor. Uma leitura teológica do Pastor na Bíblia

A imagem do pastor, conduzindo suas ovelhas às pastagens, era bem conhecida na Palestina, onde a sobrevivência de muitos dependia da criação de ovelhas e cabras.  O cuidado e a defesa das ovelhas tornavam o trabalho dos pastores exigente e perigoso (Gn 31,38-40). As relações entre pastor e rebanho eram associadas a Israel e seus dirigentes: o rei é encarregado por Deus de ser o pastor do povo.  Mas esta função é frequentemente mal exercida, de modo que o povo era “como ovelhas sem pastor” (1Rs 22,17; Zc 10,2 etc.).  Os profetas anunciam a esperança de bons pastores (Jr 3,15; Ez 34,23s), a serviço de Deus, Pastor supremo de seu povo (Sl 23; 80,2; Is 40,11; Jr 31,10; Ez 34,11ss). Deus Pastor, que conduz a humanidade ao longo da história salvífica, revela-se em Jesus Bom Pastor, no qual se realizam plenamente as esperanças proféticas do povo.

O Salmo 23, um hino de confiança, sublinha que estamos nas mãos de Deus, que cuida e protege nossas vidas. O salmista experimenta a atuação favorável do Bom Pastor: “O Senhor é meu pastor nada me falta”.  O pastor anda com seu rebanho à procura de verdes pastagens e de água em lugares de repouso; caminho que expressa a busca da vida digna, que passa pelas “trilhas de justiça por causa do nome do Senhor”.  A presença do Bom Pastor consola e defende em meio ao vale tenebroso, contexto de opressão: “Não temo mal algum, porque tu estás comigo”. O Senhor “prepara a mesa diante dos que afligem”, acolhe e oferece refeição em lugar seguro, sob sua proteção. Convida a participar da abundância de seus bens: “Com óleo/perfume me unges a cabeça e minha taça transborda”.  Neste Salmo podemos reconhecer a imagem de Jesus Bom Pastor.

A imagem de Jesus Bom Pastor, uma das mais comuns na arte primitiva e nas catacumbas de Roma, é relevante nos evangelhos. No quarto domingo da Páscoa, domingo do Bom Pastor, o evangelho é extraído do capítulo 10 de João nos três ciclos litúrgicos: 10,1-10 no ano A; 10,11-18 no ano B e 10,27-30 no ano C. A proclamação de Jesus: “Eu Sou o Bom Pastor” (vv.11.14) evoca a revelação do nome divino (Ex 3,14) e acentua sua presença de ternura e compaixão como o Deus conosco. Jesus apresenta as características que identificam o Bom Pastor: o Pastor entra no redil das ovelhas pela porta (vv.1-2); chama pelo nome as suas ovelhas, as conduz para fora e caminha à sua frente (vv.3.4); as ovelhas ouvem sua voz e o seguem (vv.3.4.27).

O conhecimento mútuo do Pastor e das ovelhas funda-se no recíproco conhecimento do Pai e do Pastor (vv.4.14-15.27). “O Bom Pastor dá sua vida pelas ovelhas” (vv.11.15), ao contrário do mercenário, que abandona as ovelhas e foge diante do lobo (vv.12-13); “dá-lhes a vida eterna” (v.28) e anseia conduzir também as ovelhas que não pertencem ao redil, de modo a haver “um só rebanho e um só Pastor” (v.16). Jesus Bom Pastor “veio para que tenham vida em abundância” (v.10).  Assim, Jesus é o Bom Pastor na qualidade de “Cordeiro Pascal”, que apascenta e conduz às fontes das águas da vida (Ap 7,17), por sua vitória definitiva sobre a injustiça e a morte.  Jesus se manifesta como o Bom Pastor compassivo e misericordioso, que “procura a ovelha perdida e a coloca sobre seus ombros” (Lc 15,3-7). Jesus Bom Pastor é a Palavra que guia o rebanho, confiado pelo Pai, no caminho da vida, da salvação.

Os cristãos experimentam a salvação através da fé e esperança em Jesus, “Pastor e Guardião da vida” (1Pd 2,25; Hb 13,20). Jesus Bom Pastor envia seus discípulos às ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt 10,5ss), e a todos os povos (Mt 28,18ss). Pedro exerce um papel de liderança na missão de “apascentar as ovelhas do Senhor” (Jo 21,15ss), assim como Paulo que institui lideranças na comunidade como “guardiães do rebanho” (At 20,17.28ss). Para manter sua Igreja, o Senhor suscita apóstolos, profetas, evangelistas, “pastores” e mestres (Ef 4,11), para estarem a serviço da comunidade. Cristo Pastor deve ser a referência para a missão pastoral dos líderes das comunidades (1Pd 5,1-5). O Papa Francisco exorta a serem pastores no meio do seu rebanho, com o “cheiro das ovelhas” (28/03/2013).

Ir. Helena Ghigi

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